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CARTA ABERTA DOS PROFESSORES DE PROJETOS SOCIOEDUCACIONAIS PARA A COMUNIDADE DE TRÊS LAGOAS/MS

Em tempos antes desconhecidos de nossos tempos, vivemos longos dias de incertezas e inúmeras perdas, e com elas trazemos por esta carta pública, sentida como um grito de socorro preso em inúmeras gargantas, nosso MANIFESTO, não apenas de um número restrito de 141 profissionais, mas sim de centenas de seres humanos que vivem dias de luto, desespero, incertezas e, acima de tudo, humilhação.

A sociedade deve ser inteirada de tudo o que se passa por detrás das cortinas, quando elas se fecham e a plateia despede-se do show. Quando retratamos “show”, estamos falando de grandes artistas, que “se viram nos 30” para multiplicar o pão da educação, para construir o brilho nos olhos de crianças que tão cedo já não encontram forças para tornarem cidadãos. Ser artista é ser um professor, é ser um arte-educador, é ser um socioeducador, o show aqui é a arte de ensinar, amar e incentivar, e não conduzir frases prontas e decorativas em palanques eleitorais.

Novembro de 2019 foi o mês simbólico para o ilusório sentimento de conforto, estruturação profissional e pessoal de centenas de professores, porém, para que houvesse essa espera, foram destinados anos de estudos, graduações, especializações, cursos preparatórios, tempo, dinheiro, noites de sono, saúde e amor dedicados ao preparo para o tão esperado Processo Seletivo de Três Lagoas (visto uma ausência de concurso público, ausência essa inexplicável até a presente data). Para aqueles que se prepararam, dedicaram, e investiram sua vida nesta seleção, “seria” o momento de respirar fundo e concretizar o sonho do trabalho digno, e acima de tudo: poder contribuir para a educação e crescimento emocional e social de milhares de crianças e adolescentes… “seria”!

O pesadelo iniciava, com um edital repleto de irregularidades que não foram diagnosticados a tempo para impedir tal tragédia, chefes de família que se viram a mercê de erros banais que desencadearam em atraso do ano letivo e do processo de classificação destes profissionais, fizeram a prova dia 13 de janeiro de 2020, porém ficaram impedidos de tomar posse no tempo certo, e assim ficaram desprovidos de sustento familiar naquele momento. 

Em 02 de março, com atraso à educação de Três Lagoas, iniciou o ano letivo de 2020, crianças e adolescentes já desgastados pela pressão dos dias angustiantes de espera e educadores emocionalmente já abalados. Foi o momento, desses professores artistas arregaçarem as mangas, esquecerem de seus lares desestruturados, suas contas atrasadas, e pensarem em reverter aquela situação. Assim tudo começou, com profissionais se dedicando extremamente para que as crianças e adolescentes não sofressem respingo do mal fadado processo seletivo.

Eis que o pior aconteceu: Covid-19, um vírus que gerou a maior pandemia dos últimos tempos e que fechou as portas das escolas e projetos de todo o planeta. Logo, muitas preocupações surgiram, principalmente quanto aos serviços essenciais e quem os prestava. Como ficariam essas crianças? Esses adolescentes? Esses profissionais que dependem disso para sobreviverem?

Cada cidade buscou sua forma de lutar pelo seu povo, e então veio a outra tragédia: em meio ao caos, a administração municipal fez uma escolha, e nela 141 professores (que haviam garantido o direito de trabalhar) tiveram seus contratos rescindidos. 

No auge de uma pandemia, quando em sua primeira coletiva de imprensa o prefeito citou que nenhum setor da prefeitura municipal seria lesado, eis que 141 professores foram parar na rua. Sem direito a nenhum benefício federal e nenhum posicionamento de retorno. Isso após garantirem o direito de trabalhar pelo ano de 2020, podendo prorrogar para 2021, fazendo provas e tudo o que lhes foi cobrado para ter o direito de trabalho digno negado em plena pandemia mundial.

Estes profissionais, mesmo humilhados e entristecidos, iniciaram uma luta junto ao SINTED, e a partir de inúmeras reuniões e solicitações com a Secretaria de Educação e Administração Municipal, lutaram construindo planos de ação, visando o fortalecimento de vínculos, mesmo à distância. Foi oferecido apoio pedagógico junto as escolas para os alunos em dificuldade com a tecnologia, além de outros planos, justificativas, meios jurídicos e tudo o que foi exigido pela Administração. Quando já não haviam mais desculpas, tivemos uma resposta: um “NÃO!”. Esses 141 seres humanos que tiveram seu direito de sustento ceifado, ouviram da Administração Municipal de Três Lagoas que não há o que ser feito.

Lembrando, -comunidade, pais, alunos, amigos- que todos esses profissionais são graduados como educadores acima de tudo, assim como os demais que seguem sua rotina de trabalho em casa, de forma on-line. A nossa diferença é que escolhemos nos especializar em projetos sociais que visam, além de trazer a educação, transformar cidadãos, fortalecer famílias desestruturadas, cuidar de crianças abusadas, maltratadas, abandonadas. Nós tivemos o nosso direito de trabalhar negado, pois não estamos sendo considerados educadores essenciais para o momento.

Outro adendo é de que há dotação orçamentária e que os planos de ação não foram feitos pelo município. Estamos desde novembro de 2019 em desgaste emocional, psicológico, físico e com nossas vidas desestruturadas. As contas não estão aguardando a pandemia, nossos filhos precisam ser alimentados, precisamos de dignidade e fizemos tudo o que nos foi exigido para ser feito. Cumprimos nossos deveres e apenas queremos nosso direito!

Queremos justiça, e acima de tudo, HUMANIDADE da Administração Municipal, pois além de buscar o direito de trabalhar, estamos buscando o amparo a milhares de crianças e adolescentes que também precisam de ajuda, principalmente neste período de pandemia.

Déia Fernandes – Pedagoga Especialista em Artes Expressivas (Aprovada para Professora de Teatro no Processo Seletivo 2020).

“Uma criança, um professor, uma caneta e um livro podem mudar o mundo” – Malala Yousafzai

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