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O DESAFIO DE SER MÃE E TRABALHADORA DA EDUCAÇÃO EM TEMPOS DE PANDEMIA

Relatos de mamães profissionais da educação durante a pandemia da Covid-19.

Ser mãe não é uma tarefa fácil. Em tempos de pandemia, ficou ainda mais difícil. O sobrecarregamento das mulheres que cumprem o isolamento social com suas famílias veio com dificuldades, principalmente para quem faz o home-office, termo em inglês do que seria “trabalhar em casa”.

O Coronavírus trouxe uma nova vida para os educadores. Antes, o que era contato físico, agora é virtual. Devido as medidas de decretos municipais e recomendações da Organização Mundial da Saúde e Ministério da Saúde, escolas foram fechadas e professoras precisaram se adaptar aos novos meios da tecnologia, com ensino à distância.

Com uma filha de apenas seis meses e mamãe de primeira viagem, Milene Machado Ribeiro é professora e já observa o sobrecarregamento materno nesta crise mundial. “O Home-office apresentou-se como uma solução em tempos de pandemia, mas conciliar os diversos papéis por nós mulheres, sem sobrecarregar e naturalizar o sofrimento materno, ainda tem sido algo problemático”.

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Milene e sua filha de seis meses.

Milene começou há pouco tempo sua vida na maternidade, e apesar de estar imensamente feliz, é consciente do esgotamento físico e mental que muitas mães sofrem, especialmente aquelas que não podem contar com uma rede de apoio (avós, companheiro, parentes, amigos, entre outros) que auxiliam na criação dos filhos.

A pressão psicológica é um dos fatores que mais prejudicam as mães e professoras durante a pandemia. Vanessa Valentim de Oliveira Valim é professora e mãe de uma menina de seis anos e um menino de apenas três, e explica que tenta manter o equilíbrio para não deixar tarefas inacabadas. “Quando se trabalha fora, de algum jeito nos distraímos, agora com a quarentena, a carga psicológica sobre nós é muito grande. Ser mãe, profissional, mulher não é fácil, ainda mais em tempos de pandemia. Estamos nos superando”.

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Vanessa e seus filhos.

Muitos alunos não possuem aparelhos ou internet para as aulas virtuais, desfavorecendo e dificultando o processo de aprendizagem. Milena explica “vejo com preocupação o movimento educação à distância na Educação Básica, especialmente na primeira etapa que é a Educação Infantil. Temo pelo afrouxamento do ensino destinado às classes populares e a implantação do homeschooling (termo em inglês para ‘Educação Escolar em Casa’)”.

Por trás das heroínas da educação, há também a mãe heroína que tenta conciliar seu trabalho com sua vida pessoal. Acordar cedo, trabalhar, cuidar da casa, dos filhos e ter tempo pra si mesma. Essa é uma rotina normal para muitas mães. E claro, não podemos esquecer de dar atenção aos filhos, brincar, ouvir, aconselhar, ajudar, entre muitas e outras atividades do dia a dia.

Atualmente no cargo de diretora, a professora Ednéia Borges dos Santos Laurentino tenta conciliar ser mãe de três filhos, esposa, filha e trabalhar incentivando estudantes e professores. “Na educação, principalmente nos anos iniciais, temos muito contato físico, interação profunda e é assim que se dá a aprendizagem nessa etapa. Nesses tempos de isolamento social, uma tela nos separou, tivemos que nos redescobrir de como ensinar e não perder o afeto e o amor”.

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Ednéia e seus filhos.

Jeniffer Elen da Silva é mãe, professora, e atualmente está como coordenadora de escola. Com um filho de apenas dois anos, fala da dificuldade em conciliar seu trabalho e sua vida pessoal.

“O maior desafio é estar com uma criança que não faz a mínima ideia do que está acontecendo e associa minha presença em casa como folga. Então quando eu digo ‘mamãe está trabalhando’, ele chora, não compreende. Quer colo. Hoje estou como coordenadora e já tive que falar ao telefone com pais de alunos e meu filho subindo no sofá ou gritando. Alguns compreendem, outros não”, explica.

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Jeniffer e seu filho de dois anos.

O esposo de Jeniffer também trabalha com a educação e divide as tarefas de casa. “Estar em casa e com tudo ali: brinquedos espalhados, filho querendo atenção, roupas esperando para serem colocadas na máquina… É uma loucura!”.

Inicialmente, Jeniffer relata que chorava devido à situação, mas hoje, diz estar mais acostumada com sua rotina. “Eu levanto para trabalhar. Coloco horários. Procuro distrair o Artur [meu filho] com seus brinquedos e vamos levando. Quando preciso ir até o local do serviço, tenho que ter algumas parcerias para ajudar. Mesmo sabendo da situação de isolamento, nem sempre é cem por cento”, conta.

MÃES E ADMINISTRATIVAS

Os serviços prestados por trabalhadoras administrativas da educação são essenciais para a formação e desenvolvimento do aluno. São elas que mantém as escolas limpas, fazem a merenda dos alunos, ajudam, auxiliam e também aconselham as crianças. Muitas vezes são chamadas carinhosamente de “tia” pelos alunos, mas elas são muito mais do que isso, são mães que lutam diariamente nessa pandemia, cumprindo horário nas escolas, em um revezamento, para manter as escolas organizadas e acolhedoras para quando as crianças voltarem.

Priscila Trindade de Souza é administrativa atendente, e tem quatro filhos. Três meninas e um menino. Sua rotina não é fácil e começa às 5h da manhã. “Acordo cedinho, dou mama para meu bebê de sete meses. Tenho uma filha de três anos e as outras maiores são de 10 e 12 anos. É uma correria, levanto, faço comida para deixar para elas comerem. Como não está tendo escola, elas estudam em casa. Se eu estiver no meu dia de revezamento, de manhã preparo o café e minha mãe me ajuda ficando com as crianças, enquanto vou trabalhar.”, conta.

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Filhos de Priscila.

Por outro lado, Cristiane Elias de Souza é auxiliar de escola, tem um filho de 15 anos e enfrenta dificuldades na aprendizagem de seu filho com o ensino à distância. “Meu filho estuda em escola estadual e durante essa pandemia, estamos estudando juntos em casa e online no período em que estou em casa e posso ajudá-lo. Este tipo de estudo para o meu filho, que sempre teve dificuldade na aprendizagem, está sendo bem mais lento e complexo, pois nem sempre as atividades propostas pelos professores são de fácil entendimento”, explica.

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Cristiane e seu filho de 15 anos.

Atendente da Educação Infantil, Cláudia Alcione Aureliano da Silva toma todos os cuidados durante seu revezamento. ”Agora, no revezamento,  estamos  mantendo nossos ambientes organizados, higienizados e antecipando algumas coisas para volta das crianças, usando máscaras  o tempo todo e álcool  em gel”. Com três filhas, Cláudia também vive o caos da correria. “É muito corrido mas tento dar o meu melhor.  É cansativo, mas é preciso”.

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Cláudia e suas filhas.

A EDUCAÇÃO PÓS-PANDEMIA

É incerto de se pensar sobre o futuro da educação após a pandemia. Isso implica na saúde mental dos profissionais da educação e também dos alunos.

“Eu ainda nem consigo me imaginar após a pandemia. Creio que voltaremos com receio, com hábitos novos. Essa educação à distância na verdade visa minimizar danos, porque os danos existem e nada substitui a presença do professor. Vamos encontrar estudantes que não tiveram a mesma facilidade em aprender, o mesmo acesso. Teremos um cenário que, por mais que eu tente, não tem como mensurar”, conta Jeniffer.

Milene lembra da falta de valorização da ciência e saúde. Desde de 2019, ambos vem sofrendo cortes e sem muitos investimentos. Ano passado, várias manifestações contra o governo federal foram feitas, onde servidores públicos suplicaram pela valorização da educação e saúde.

“Espero que esse momento sirva para defendermos e valorizarmos a Ciência, a Educação, o Sistema Único de Saúde -SUS. Que a Educação seja libertadora e crítica para que os estudantes tomem consciência da sua posição de dono dos serviços públicos. Da cidadania e da soberania do cidadão numa democracia.”

Cristiane se preocupa como mãe e educadora em relação as exigências do aprendizado das matérias neste período difícil. “Ao meu ver, não podemos comparar a aprendizagem de uma escola à de uma casa. Nós, como mães, não temos a obrigação de exigir que cumpram o conteúdo escolar. Penso que devemos educar nossos filhos com boas maneiras, amor e respeito, e assim deixá-los viver durante essa pandemia, pois não sabemos o dia de amanhã. O ano letivo a gente recupera no próximo ano”, explica.

Cláudia diz que voltará as aulas com receio. “Como é uma coisa nova, para nós da educação infantil, vai ser mais difícil porque temos um contato muito grande com as crianças.’’ Vanessa completa.  “Será desafiador, porque não sabemos quais serão os efeitos dessa pandemia na saúde e no psicológico dos nossos alunos”.

Ednéia tem esperanças e vê a educação mais valorizada. “Será de mais desafios, porém com mais parceiras com os pais e com credibilidade no ensino brasileiro, que levamos com dedicação e amor”, finaliza.

Em meio as dificuldades, em tempos difíceis, o SINTED parabeniza e deseja força a todas as mamães que lutam diariamente pela educação, tornando o mundo um lugar melhor. Feliz dia das mães!

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