Filiado à

O protagonismo LGBTI+ nas eleições 2020

Por: Rafael Diogo Borges
Professor. Performer. Pesquisador de gênero e sexualidade e
militante do Coletivo (R) Existência.

Democracia é, por definição, uma forma de governo em que o povo exerce soberania e onde não existem diferenças ou privilégios entre classes. Na prática, não é o que acontece – pelo menos não no Brasil. Entre os representantes eleitos pelo povo, um perfil majoritário: homens, brancos, heterossexuais e de classe média ou alta. Em estados ou cidades menores, onde persistem as tradições familiares na política, praticamente com rodízio de poucos sobrenomes no poder, a exclusão de alguns grupos é ainda mais notória.

2020 é o ano de escolher os futuros prefeitos e vereadores de cada município. Candidatos LGBTs já somam mais de 336 em todo país. As eleições são o meio que configura o encontro entre o movimento social (LGBTQIA+) e os partidos políticos. Apesar de poucas pessoas se importarem, é a linha seguida pelos futuros governantes que definirão grau de impacto que sua gestão terá em nossas vidas. Os vencedores das eleições irão legislar e executar projetos que podem ter influência direta em nosso cotidiano.

No que concerne à evolução do número de candidaturas “assumidamente LGBT”, é possível observar aumento expressivo no Brasil na última década. Se, em 2002, foram identificados apenas nove candidatos LGBTs nas eleições gerais (deputados, senadores, governadores e presidente), em 2010 este número aumentou para 20, representando incremento percentual de 122%. Em 2018, houve o maior recorde de candidaturas LGBTs; ao total foram computadas 160 candidaturas sendo que 08 foram eleitos, segundo dados divulgados pela Aliança Nacional LGBTI, apresentando um crescimento de 386% em relação ao último pleito.

Dentre os eleitos temos 03 mulheres trans/travestis: Erica Malunguinho (PSOL-SP), Erika Hilton (PSOL-SP) e Robeyonce (PSOL-PE); 03 gays: Fábio Félix (PSOL-DF), Jean Wyllis (PSOL-SP) e Fabiano Contarato (Rede- ES); 01 bissexual: Isa Penna (PSOL-SP) e 01 lésbica: Leci Brandão (PC do B – SP).

Afinal qual a importância de eleger LGBTs para os cargos de vereadores em 2020?

Vereadores propõem leis municipais que afetam a dinâmica das cidades e de seus moradores. Dessa forma, eles são responsáveis pela elaboração, discussão e votação de projetos de leis que incluem benfeitorias, obras e serviços em geral. Isso inclui também projetos que contemplam a proteção das chamadas minorias, grupo em que se incluem os LGBTQIA+.

Outra importância de eleger vereadores LGBTs é a possibilidade de afinar leis que venham do âmbito federal- tanto as aprovadas no Congresso Nacional quanto as que venham das assembleias estaduais. Leis aprovadas nessas duas esferas que coloquem a comunidade LGBTQIA+ em risco podem ser barradas e revertidas nos perímetros municipais.

O levamento feito pela Aliança Nacional LGBTI, o país registra 336 pré- candidatos LGBTI+ concorrendo a um cargo público municipal em 2020. Destes, 4 entram na disputa de prefeito/prefeita e 332 para o cargo de vereador/ vereadora. Entre os candidatos a vereadores, 318 são pessoas LGBTI+ e 18 são aliados da causa.

Mas, cuidado! Nem tudo que brilha é arco-íris. Antes de sair votando em todos os candidatos LGBTI+, é importante checar seu posicionamento em relação às causas da nossa comunidade. Temos como exemplo claro na cidade de São Paulo o vereador Fernando Holiday que é declarado gay e também inimigo das pautas e comunidade LGBTI+. O parlamentar usa constantemente discursos LGBTfóbico e discriminatório para votar contra projetos que favorecem as minorias.

No Brasil existe o #votelgbt, um coletivo que desde 2014 busca aumentar a representatividade de travestis, transexuais, lésbicas, bissexuais e gays na política institucional brasileira. O principal objetivo é dar visibilidade a candidaturas pró-LGBTs e incentivar as pessoas, a incluírem pautas de respeito à diversidade na escolha de seus candidatos. Saiba mais sobre #votelgbt em: https://www.votelgbt.org/

1 comentário em “O protagonismo LGBTI+ nas eleições 2020”

  1. Excelente reflexão a respeito do voto LGBT. Bem pontuado a questão de que nem tudo que reluz é arco-íris. Temos uma propagação do discurso LGBT como forma de arrecadar votos, mas de fato precisamos tomar cuidado com isso. Até que ponto aquele candidato está alinha de fato com as pautas da comunidade. Obrigado por essa ótima reflexão. Que tenhamos mais legisladores preocupados com as minorias.

    Responder

Deixe um comentário